segunda-feira, 23 de março de 2020

A Quinta - Joanne Ramos


Título| A Quinta
Autor| Joanne Ramos
Editor| Saída de Emergência 
Páginas| 320

Vou confessar que o forte motivo que me fez querer ler este livro, foi por ele ser uma recomendação do mês de Março do Book Gang, mas depois de a Helena Magalhães o ler disse que ficou desiludida com o final e eu já comecei a perder lentamente a curiosidade inicial. Acabou por não ser tão mal quanto eu esperava no final, mas não tão bom como eu esperava inicialmente.

Aqui vamos conhecer o negócio da Golden Oaks, uma grande empresa de barrigas de aluguer, em que as mulheres são bem pagas, mas em contrapartida, durante a gravidez estão enclausuradas neste retiro, onde tudo é monitorizado, desde o que comem ao que bebem, têm atividades programadas, não podem fazer nada que saia do programa, porque se prejudicam o bebé, ficam sem o prémio. É no meio disto que conhecemos a Jane, uma imigrante filipina, desesperada para dar um futuro melhor à sua bebé acabada de nascer. Ela toma a decisão de deixar Amalia com a sua prima e assim torna-se uma "hospedeira".

Vamos começar por falar que a sinopse, para mim, é daquelas que nos induz a erro e leva-nos a uma ideia e quando lemos o livro não é nada disso. A meu ver, a Jane não é propriamente a protagonista, visto que a vamos acompanhando assim como a várias outras pessoas. A narrativa vai alternando entre os pontos de vista da Jane, da Reagan, outra hospedeira da Goldan Oaks, da Ate (a prima idosa que ficou responsável pela Amalia, a filha de Jane) e Mae, a pessoa na frente da empresa. Para além disso, na sinopse é-nos dito que não pode haver contacto com o exterior porque se não as hospedeiras perdem o prémio pela gravidez... e não é verdade! Elas falam por chamada e video-chamada sempre que querem, recebem visitas e podem também visitar, com o consentimento das clientes (verdadeiras mães dos bebés)... A Jane acaba por ser mantida longe da sua família, mas por razões que terão que descobrir lendo o livro 😋

Eu tive sérios problemas para me conectar com as personagens até meio do livro... A Jane é chata e insossa e quando lhe dá para ser 'corajosa' é para ser basicamente falsa e fazer queixa de outra hospedeira, sendo que quando o devia ter feito, ficou calada. No entanto, mesmo não sendo mãe, percebi o sofrimento e o desespero dela em várias cenas, o que me fez aproximar mais dela emocionalmente. Mas a minha personagem favorita é, sem dúvida, a Reagan, a que parecia ser a típica menina rica, que podia ter tudo, mas escolheu aquilo por um própósito, que vê o melhor nas pessoas, que vai à luta por aquelas que considera amigas (principalmente a Jane, que nem merece). 

Mae, que é a uma das criadoras da empresa, irritou-me muitas vezes, principalmente quando era vista pelos olhos das hospedeiras e eu, no caso delas, acho que já lhe tinha mandado com alguma coisa na testa. Mas a verdade é que gostei dela e entendi, nas partes narradas por ela, que ela achava que estava a fazer genuinamente algo de bom, olhando aos lucros claro, mas também preocupando-se com o bem-estar das clientes (até certo ponto). Acho que no final ela abre os olhos e percebe coisas que não tinha percebido antes.

O que me fez confusão foi o final! A história tinha tudo para ser uma crítica à sociedade em vários pontos, a começar pela exploração de mulheres não brancas, que procuram uma vida melhor na América e acabam por ser exploradas como amas, empregas de limpeza, entre outras coisas e vivem, muitas das vezes, em situações precárias. A premissa era ótima, mas sinto que a autora não a soube aproveitar. Recordou-me a experiência que tive com "Vox", que era um livro que podia ser tudo, que podia ter-se focado no papel da mulher, na voz que ela precisa ter e podia ter terminado com um final badaas, mas foi focar-se no romance e nem sequer concluiu a história. Basicamente, aqui é a mesma coisa, só não se foca no romance, mas as grandes questões e problemas mantêm-se...

Com isto, não quer dizer que não recomende o livro, porque como mencionei, tem uma grande crítica social (até cagar com tudo no final) e faz-nos refletir em vários assuntos, nomeadamente na maternidade, que é algo sobre o qual não me debruço ainda muitas vezes. Acho que para quem já é mãe, o livro é capaz de ser muito mais impactante e deve ser sentir uma maior conexão com as personagens, principalmente com a Jude.

#FicaEmCasa ❤
Beijinhos



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